quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Red Cliff: o épico de John Woo



Estou morrendo de curiosidade para ver Red Cliff, o épico em duas partes (e quase cinco horas) de John Woo. É o filme mais caro já feito na Ásia, com um orçamento de US$ 80 milhões. O longa também marca a volta do diretor à China, depois de nove filmes (e 15 anos) trabalhando nos Estados Unidos.

A primeira parte eu comprei na China, em DVD - e está lacrada, esperando a segunda parte para proporcionar uma experiência mais completa. No final de janeiro chegou aos cinemas asiáticos a continuação, cujo trailer é este aqui:



E aí, entusiasmou? Mundialmente Red Cliff deve ser lançado em versão reduzida: um filme só, com duas horas e meia.

Na Ásia rola uma certa rejeição com o John Woo, já que o cara foi para os EUA fazer filmes em Hollywood e depois voltou. O clima é de "se era tão bom, por que voltou?". Parece que Woo está decidido a dividir a área de atuação dele, já que deve fazer 1949 (previsto para 2010) na China e Rainbow Six (baseado na obra de Tom Clancy) na terra de Obama.

Confusão no terror asiático lançado no Brasil



Assistir a um filme em casa deveria ser simples. Você escolhe o filme, compra ou aluga e assiste, certo? Depende. Se você gostar de terror asiático a coisa pode ser mais complicada. As distribuidoras de home video costumam castigar os fãs brasileiros desse gênero.

Caso 1: vamos supor que você goste dos Pang Brothers, os gêmeos nascidos em Hong Kong que deram um gás no horror recente. O básico da dupla é a série The Eye, que tem um cronologia simples: The Eye (2002), The Eye 2 (2004) e The Eye 10 (2005). O mais confuso é que o terceiro se chama "10", mas isso tem relação com o enredo do longa.

Aí você vai procurar as edições nacionais. De cara, a mais fácil de achar é Visões, da Playarte. OK, deve ser o primeiro... Mas não é. Visões é The Eye 2. Já Visões 2, é The Eye 10. E onde foi parar o primeiro filme da série? Em outro distribuidora, a Paris Filmes. E se chama The Eye - A Herança. Resumindo, a ordem das edições nacionais é The Eye - A Herança, Visões e Visões 2.

Ah, e cuidado para levar O Olho do Mal, que é um remake do primeiro filme, estrelado pela Jessica Alba.

Parece até o norte-americano The Evil Dead (1981), que no Brasil se chamava A Morte do Demônio e tinha a continuação (The Evil Dead II, de 1987) chamada Uma Noite Alucinante 2.



Voltemos aos asiáticos. Caso 2: você viu Imagens do Além (2008), estrelado pelo Joshua Jackson (o Pacey, de Dawson's Creek), e ficou com vontade de ver o original tailandês. Os dois longas se chamam Shutter em inglês. No Brasil, ganharam títulos diferentes. O made in USA ganhou o nome que eu citei acima, o da Tailândia é Espíritos - A Morte Está a Seu Lado (2004).

Até aí nada demais. Só que se você gostar muito do filme, vai acabar notando que ao lado dele, na locadora, há um Espíritos 2 - Você Nunca Está Sozinho (2007). Uau, uma continuação! É até dos mesmos diretores, Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom. Você começa a assistir e... Não tem relação alguma com o primeiro!

Isso é porque Espíritos 2 não é continuação de coisa alguma. É um outro filme - sem relação com o Shutter tailandês - chamado Alone. Mais uma vez a responsável pela confusão é a Playarte.

Terror de verdade é isso aí, infelizmente.

[Originalmente publicado no With Lasers, em 24 de janeiro de 2009]

O mercado de filmes piratas na China



Os chineses adoram filmes. Tanto que a pirataria corre solta pelo país, em um nível muito maior que o do Brasil. Lá você pode comprar praticamente qualquer longa-metragem em versão "não oficial" – com capinha impressa profissionalmente e um DVD silver (daqueles gravados industrialmente).

A média de preços é entre oito e 10 yuans, uns R$ 2, R$ 2,50. Para tentar combater esse mercado, as distribuidoras adotaram um padrão que funcionou bem: o dos VCDs. Os filmes são vendidos oficialmente em CDs, que têm produção e custos mais baratos que os DVDs. Você pode comprar versões oficiais de filmes como Cidade de Deus por US$ 2.



A qualidade não é tão boa quanto a dos DVDs, mas é parecida com a dos downloads de internet. Aparentemente a tática funcionou: as lojas estão recheadas de VCDs e todos os lançamentos saem nesse formato.

Chinglish e venda no supermercado

A pirataria é tão descarada que você compra cópias piratas, em DVD, de filmes clássicos no supermercado local. E não em qualquer um, mas em redes grandes como a francesa Carrefour. Os filmes clássicos – supostamente "com direitos autorais expirados" – são o alvo principal. Esses discos são vendidos por cinco yuans, mais ou menos R$ 1!

E é aí que entra a "esperteza": mesmo que esses filmes não tivessem direitos autorais válidos, as edições feitas por outras empresas – incluindo restaurações, legendas e capas – teriam. Na China a lei é maleável. Dá para encontrar DVDs que têm a capa da norte-americana Criterion Collection, citando nominalmente a empresa, sem pudor.



"Eu evitaria esses piratas", diz Jon Mulvaney, da Criterion, por e-mail. "Muitos pirateiros alegam estar vendendo 'versões asiáticas' da Criterion, mas nossos DVDs só têm direito de publicação na região 1, que é relativa aos EUA. Não há a menor chance desses discos serem oficiais."

Entrando em lojas especializadas em filmes você também não tem dificuldades em encontrar coleções completíssimas de Charlie Chaplin, Marilyn Monroe, Ingmar Bergman, Alfred Hitchcock, Akira Kurosawa e uma infinidade de outros. Os DVDs e suas embalagens nem sempre são perfeitos, como mostra a imagem da capa de A King in New York, reproduzida abaixo.



Novidades

Durante os Jogos Olímpicos o governo conseguiu tirar das ruas os vendedores especializados em gravar os filmes no cinema e lançá-los no mercado negro dos DVDs piratas, mas logo depois Pequim voltou a ser o paraíso desse tipo de pirataria.

Um filme que ainda está em cartaz custa mais ou menos R$ 2. Pode ser um blockbuster norte-americano (o novo Batman é um favorito local) ou produções locais (Red Cliff, de John Woo – mesmo tendo ganhado DVD oficial enquanto o longa estava nos cinemas – foi vítima desse tipo de comércio).

[Originalmente publicado no With Lasers, em 17 de setembro de 2008]

Wong Kar Wai para completistas

WKW

Tenho de confessar que eu fico obcecado com as coisas facilmente. Então quando descobri o cinema de Wong Kar Wai (fui um fã tardio, eu sei) me enfiei de cabeça para ver absolutamente tudo o que ele tinha feito. E descobri várias surpresas simpáticas no caminho.

A primeira foi Cinzas do Passado (1994), o longa-metragem de lutas marciais que estava meio esquecido. Quase todas as versões em DVD estão fora de catálogo, mas a remontagem Redux (que foi exibida na Mostra de São Paulo, inclusive) deve resolver esse problema logo mais.

Mas há peças mais obscuras. A primeira é wkw/tk/1996@7'55"hk.net (1996), um curta-metragem feito por encomenda do estilista japonês Takeo Kikuchi (e com fotografia de Christopher Doyle, parceiro constante de Kar Wai). Graças a uma boa alma, o vídeo está no YouTube:



Depois, em 2000, o diretor fez uma homenagem aos astros esquecidos do cinema chinês no curta Hua Yang De Nian Hua. Esse chegou a ser lançado oficialmente em DVD como bônus da edição que a Criterion Collection fez para Amor à Flor da Pele. E também está na web.

Entre os curtas de Wong Kar Wai, o mais famoso é The Follow, lançado dentro da série The Hire – uma série de filmes pequenos bancados pela BMW em 2000 e 2001. O elenco tem Clive Owen, Adriana Lima (falando português), Mickey Rourke e Forest Whitaker. Esse trabalho foi inicialmente lançado na internet, mas depois também saiu em DVD. Atualmente está indisponível por meio de fontes oficiais, mas...



O DJ Shadow teve o privilégio de escalar Kar Wai para direção do vídeo de "Six Days", faixa lançada no álbum The Private Press (2002). Como se não bastasse, o clipe ainda tem o ator Chang Chen, de O Tigre e o Dragão (dirigido por Ang Lee em 2000).



A série de curtas-metragens continuou em Eros (dividido com Michelangelo Antonioni e Steven Soderbergh em 2004) e Cada Um Com Seu Cinema (2007, com outros 36 diretores, encomendado para comemorar os 60 anos do festival de Cannes). Essas duas compilações não são raras e estão disponíveis em DVD no Brasil.

Voltando ao cinema patrocinado o diretor lançou There's Only One Sun em 2007. O filme foi pago pela Philips, que queria divulgar sua série Aurea de televisões.



Até aí, tudo bem. Só que antes de assumir a direção, Wong Kar Wai era roteirista. Ele escreveu 13 filmes, dirigidos por várias pessoas. O primeiro foi Once Upon a Rainbow (1982), de Agnes Ng, mas o mais conhecido é provavelmente Final Victory (1987) – indicado a 11 prêmios, incluindo o de melhor roteiro, no Hong Kong Film Award do ano seguinte.

Nesse meio tempo, a maior das surpresas: Wong Kar Wai escreveu DOIS filmes de terror! São as duas partes de The Haunted Cop Shop, lançadas em 1987 e 1988. O primeiro volume foi postado integralmente no YouTube:



A lista não acaba nunca. Tem os comerciais que o diretor fez para a Dior, Motorola, Lacoste...

[Originalmente publicado no With Lasers, em 4 de novembro de 2008]